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Pare de cair em GOLPES: como a saúde mental e técnicas de persuasão podem blindar sua mente

Você já caiu em algum desses golpes de whatsapp ou mesmo já foi enganado por alguém na rua? Saiba que todos nós estamos sujeitos a isso a todo momento e os bandidos estão sempre criando novos golpes para ganhar dinheiro fácil. Você gostaria de entender o que fazer para blindar a sua mente disso e não cair em golpes? Então presta atenção, porque é isso que vamos falar aqui!

Mas antes de ir direto para o resto deste artigo, saiba que você não está sozinho(a) nessa. Segundo a pesquisa “Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre mensageria no Brasil”, divulgada em 2022, 43% dos usuários de WhatsApp no Brasil foram  alvo de algum tipo de estelionato. Então, não se sinta mal por já ter caído em algum golpe, mas preste atenção para saber o que fazer.

Você provavelmente gosta de se considerar um ser humano racional. Quando precisa tomar uma decisão, você analisa todas as informações, faz uma lista de prós e contras e, com base nisso, toma a melhor decisão possível. A verdade é que somos muito mais irracionais do que gostaríamos de admitir. Muitas vezes, nossas decisões são influenciadas por pequenas coisas irracionais, como algumas palavras, situações de fragilidade ou emoções. Infelizmente, qualquer pessoa pode ser vítima de um golpe de venda. Não importa quão inteligente ou experiente você seja, é sempre possível ser enganado.

O objetivo dos golpistas é ganhar sua confiança e, em seguida, tirar vantagem disso. Com a internet e as mídias sociais, agora é possível que eles operem a partir de qualquer lugar do mundo. Isso torna mais fácil tirar todo o dinheiro que puderem sem nenhuma consideração pelos seus sentimentos ou circunstâncias. Um grupo que é particularmente vulnerável a golpes, principalmente de vendas, é a população idosa. Infelizmente, eles são frequentemente alvo de golpistas que se passam por parentes ou autoridades para obter acesso aos seus recursos financeiros. Isso pode incluir o uso de identificadores de chamadas falsos para criar a ilusão de que estão ligando de uma fonte legítima.

Um estudo do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, divulgado em 2020, inclusive, apontou que cerca de 75% dos idosos entrevistados relataram ter sofrido algum tipo de golpe na internet. Entre os golpes mais comuns aplicados em idosos estão o phishing, que consiste em tentar obter informações confidenciais dos usuários, como senhas e números de cartão de crédito, por meio de mensagens de email ou redes sociais; e o golpe do falso sequestro, onde os criminosos entram em contato dizendo que um parente próximo foi sequestrado, e pedem dinheiro para libertá-lo.

Mas, não são só os idosos que caem nesses golpes não, viu? Os golpistas estão cada vez mais preparados, usando até a tecnologia, como a criação de sites falsos, e-mails e mensagens de texto com aparência de empresas legítimas para conseguir obter informações pessoais e financeiras. Talvez você tenha ouvido falar do golpe da falsa Central de Atendimento que, apesar de não ser exatamente novidade, teve um grande aumento nesses primeiros meses de 2023. Funciona assim: um falso funcionário do banco, mascarado com um personagem simpático e formal, entra em contato e afirma que a conta bancária foi invadida, clonada ou que houve uma tentativa de transferência ou saque com valor exorbitante. Aproveitando-se do desespero da vítima, o golpista pede que a pessoa refaça a transação no mesmo valor, já que assim a transação anterior seria anulada. Imagina aí, você no conforto da sua casa, receber uma ligação sobre uma transação de um valor considerável desse nível… Bate o desespero, não é? Mas calma! Eu vou te mostrar como é que você pode treinar a sua mente para ficar imune a esses golpistas! Aqui estão 4 estratégias para você considerar:

1 – Imunização mental contra falsas informações

Há uma teoria que ganha cada vez mais espaço na psicologia social, conhecida como inoculação psicológica, que sugere que é possível proteger indivíduos contra mensagens persuasivas indesejadas. Essa abordagem tem ganhado destaque como uma alternativa para combater a desinformação e as fake news que infelizmente estão se tornando cada vez mais comuns em nosso cotidiano.

Desenvolvida por William McGuire em 1961, a inoculação psicológica é comparada a um tipo de vacinação que protege contra doenças. A ideia é expor as pessoas a argumentos fracos e refutá-los para que, quando confrontados com mensagens enganosas, elas estejam mais preparadas para identificar e rejeitar a desinformação.

Sander van der Linden

Sander van der Linden, um dos pesquisadores que adaptou a teoria, defende que o mesmo princípio pode ser aplicado no combate aos golpes. Durante o processo de exposição a argumentos falsos do golpista, é necessário apresentar refutações que desmontem esses argumentos. Esse método é eficaz na construção de habilidades de pensamento crítico e reforça as crenças iniciais. Com o passar do tempo e a compreensão das táticas utilizadas na desinformação, desenvolve-se uma resistência mental a essas tentativas de persuasão. Essa resiliência a longo prazo é fundamental para que, no futuro, as pessoas sejam capazes de identificar e rejeitar informações falsas ou enganosas que possam prejudicá-las.

2 – Desenvolva o Fator Crítico

O fator crítico é outra arma poderosa contra os golpes! É basicamente uma parte da mente que atua como um filtro, avaliando as informações que recebemos e decidindo se devemos acreditar nelas ou não. É uma habilidade fundamental para avaliar informações com base em fontes confiáveis e tomar decisões informadas sem se deixar levar por emoções ou outros fatores que possam influenciar negativamente a tomada de decisão.

Quando pensamos no “calor da emoção”, tendemos a tomar decisões impulsivas e muitas vezes irracionais. Isso porque as emoções podem afetar nossa capacidade de raciocínio lógico e nos levar a agir de forma impulsiva, sem considerar todas as possíveis consequências de nossas ações. Por isso os golpistas muitas vezes usam táticas emocionais para persuadir as pessoas a tomarem decisões impulsivas. Em geral, quanto mais emocionalmente envolvidos estamos em uma situação, menor é nosso fator crítico e maior a probabilidade de sermos influenciados ou manipulados.

Mas então, como fazemos para fortalecer nosso fator crítico? A resposta está novamente na teoria da inoculação, que sugere que podemos fortalecer nosso fator crítico, expondo-nos a pequenas doses de manipulação e engano, ajudando a construir uma resistência emocional e cognitiva mais forte contra os golpes. Mas calma aí… não é pra você cair em um golpe de propósito não! Basta se educar sobre os diferentes tipos de golpes e táticas usadas pelos golpistas, o que nos torna mais cientes e alertas para sinais de fraude. Também podemos praticar a tomada de decisões de forma mais lógica e racional em situações que envolvem emoções fortes.

Por exemplo, você sabia que uma das principais técnicas utilizadas nesses casos é a escada do sim? Ao conseguir que a pessoa fale “sim” muitas vezes, ajuda que a influência aconteça e, assim, facilite os golpes. Ao mesmo tempo, usar palavras como “porque” faz com que a ação requerida pelo golpista seja mais facilmente aceita. Isso fica mais claro quando observarmos com atenção a hipnose. O pre-talk é uma etapa crucial para preparar a pessoa para o processo de hipnoterapia. Consiste em uma conversa inicial que tem como objetivo tranquilizar a pessoa, criar uma conexão com o hipnoterapeuta e estabelecer uma expectativa positiva em relação ao processo. Com a pessoa calma e confiante, o hipnoterapeuta pode então induzir o transe hipnótico, que consiste em diminuir a atividade do fator crítico e permitir que o subconsciente seja acessado mais facilmente. Isso é feito através de sugestões e comandos que são dados de forma cuidadosa e estratégica.

Mas, é preciso ter em mente que, diferentemente dos golpes, o hipnoterapeuta ou profissional de hipnose não quer manipular a pessoa, nem tampouco torná-la inconsciente para fazer o que bem deseja com ela. No caso da hipnoterapia o cliente permanece consciente o tempo todo e o processo só funciona porque a pessoa quer muito passar pela experiência. Quando ela não quer, ou está desconfiada, o hipnoterapeuta não tem poderes mágicos que a convençam a fazer o que não quer.

Já o golpista, que tem intenções de prejudicar a pessoa, usa de algumas dessas técnicas para criar conexão com a vítima, para então enganá-la. Um processo bem diferente.

3 – Preste atenção na sua energia mental

Em terceiro lugar, uma dica que vale para quase todos os aspectos da nossa vida: a energia mental pode sim influenciar na nossa capacidade de cair ou não em  golpes. O cérebro humano é uma máquina incrível que está sempre ligada, mesmo quando estamos dormindo. Ele é responsável por todos os nossos comportamentos, pensamentos e emoções, e por isso, consome muita energia, cerca de 20% do total da energia do nosso corpo. Quando estamos mais estressados ou tomamos muitas decisões durante o dia, o cérebro acaba gastando muita energia e vai tentar ao máximo economizá-la, o que faz com que o fator crítico não seja ativado tão facilmente. Na verdade isso se reflete naquela sensação de irritabilidade que ocorre pouco antes de finalizar uma compra ou fechar um negócio. Muita gente acaba não tendo paciência para ler contratos ou avaliar com mais cuidado o que está sendo falado e por isso tomam decisões mais emocionais.

Esse processo é agravado quando não cuidamos adequadamente de nossa saúde mental, em especial da nutrição, do sono e do excesso de pensamentos durante o dia. Quando a mente não está descansada e não recebe uma quantidade constante de energia, ela não funciona da melhor maneira possível e isso afeta diretamente a nossa capacidade de tomar boas decisões, ativar o  senso crítico e lidar com situações estressantes.

Essa fadiga mental e física é, inclusive, a grande responsável pela maioria das compras feitas naqueles famosos canais de 0800 da madrugada. Quando estamos cansados e com a mente sem energia, é mais fácil nos convencermos a comprar algo que não precisamos. Uma das práticas mais eficientes para trazer mais saúde mental e também nos ajudar a recrutar o fator crítico quando precisamos é o mindfulness. Com a prática regular, treinamos a mente para observar o processo mental de fora e isso faz com que tenhamos aquele 1 segundo de espaço entre o pensamento e o comportamento derivado deste pensamento. E isso é crucial para não cairmos em golpes. Assim, quando estamos com a mente clara e descansada temos mais autocontrole,  melhor capacidade de avaliar as situações com racionalidade e tomar decisões mais conscientes, portanto,  somos menos propensos a cair em golpes.

Quer entender um pouco mais sobre este tipo de treinamento mental? Então dá uma olhada nesta aula rápida sobre o assunto:

4 – Não dê aquilo que o golpista quer (A anatomia do golpe)

O objetivo final dos golpes é sempre pedir dinheiro, mas antes disso, os bandidos precisam criar um ambiente propício para convencer as pessoas a fazerem o que eles querem. Robert Cialdini, autor de “Pre-Suasão”, explora a importância do momento que antecede a apresentação de uma mensagem, chamando-o de “momento privilegiado” ou “pré-suasão”, e apresenta seis princípios-chave que podem ser aplicados para criar um ambiente pré-suasivo.

Vou compartilhar um exemplo de golpe que já fez muitas vítimas para que você possa visualizar esses princípios-chave e então tornar a sua mente imune à maioria dos golpes:

1. Atenção: Direcionar o foco para o elemento central da mensagem

Esse conhecido recebeu uma falsa ligação que seria do banco onde uma falsa atendente comunicava que seu cartão teria sido clonado. Então ela usou essa mensagem como foco principal e ela tinha um elemento de grande importância: “O seu cartão foi clonado” fazendo com que o nosso subconsciente associe um valor emocional alto para essa mensagem aumentando o nível de atenção.

2. Associação: Estabelecer uma relação positiva com a mensagem antes de apresentá-la.

Essa atendente, uma mulher muito educada e simpática, comunica a clonagem de forma preocupada, como se o banco quisesse resolver seu problema para você. E aqui você já começa a ver essa pessoa que te avisou como alguém relevante e “amiga”, afinal foi ela que te avisou do fato relevante e demonstrou querer ajudar.

3. Autoridade: Mostrar-se como uma fonte confiável e autoridade no assunto em questão.

Ela aparentava seguir protocolos do banco, conhecendo alguns dados desse meu conhecido, como nome, cpf e endereço. Quando enxergamos uma pessoa como “autoridade” em algo, seja ela um advogado, um médico, um parente mais velho ou qualquer pessoa que reconhecemos possuir algum conhecimento ou poder que não temos, então associamos esse sentido de autoridade a essa figura. O que isso faz na nossa mente é que se torna mais fácil com que essa pessoa dê sugestões ou comandos que você obedeça mais facilmente. A figura de autoridade costuma ter muita facilidade de suplantar o Fator Crítico que falamos antes.

4. Afeição: Gerar empatia e conexão entre a pessoa e sua mensagem.

A falsa atendente cria um contexto que deixa a vítima apreensiva. Mas ela também apresenta uma solução, se mostrando preocupada e prestativa. Isso acontece quando o golpista é experiente e costuma usar frases como “sei bem o problema que isso pode causar”, ou mesmo “Sinto muito pelo ocorrido”. Seguido por:  “Mas, estou aqui para te ajudar, pode ficar tranquilo.” Isso reforça a sensação de que esta pessoa é uma autoridade e é confiável. Começa a haver um empilhamento dessas sugestões a fim de que seja impossível que você negue ou questione qualquer coisa que o golpista te peça.

5. Antecipação: Despertar o interesse e a expectativa em relação à mensagem.

Para resolver o problema, ela pede a senha do cartão e pede que a vítima corte o cartão ao meio, mas sem danificar o chip! – aqui ela cria interesse à mensagem dando o passo a passo que resolveria o problema. E esse é o pulo do gato, pois aqui está o comando daquilo que ele quer, pegar o chip inteiro. Normalmente, sem que houvesse as etapas anteriores, a maioria das pessoas questionaria essa informação, mas como a situação foi sendo construída com uma engenharia muito precisa, então sem perceber você aceita o que o golpista te diz e começa a seguir os passos sugestionados.

6. Acesso limitado: Criar a percepção de que a mensagem é rara ou exclusiva.

Então, a falsa atendente oferece o envio de um motoboy para recolher o cartão supostamente clonado. Assim, gerou a percepção de que a mensagem é rara ou exclusiva, afinal não é todo dia que você recebe uma ligação falando que seu cartão foi clonado, mas a solução é rápida e simples. Como todo o resto das informações e sugestões não foram questionadas ou checadas e a sua mente já aceitou confiar nessa pessoa, fica muito mais difícil que qualquer questionamento seja feito nessa fase, que é quando o golpe é concluído.

Esses princípios são acompanhados por táticas que seguem o método de pré-suasão: eles conhecem o alvo muito bem, afinal têm até alguns dados; entendem as necessidades e preocupações do alvo; planejam o momento privilegiado criando uma história envolvente; e usam de vários gatilhos mentais: como medo e empatia.

Neste momento entra em cena o falso motoboy. Uma pessoa empática, bem vestida, com gestos corporais que passam confiança de que está ali para te ajudar. Esse meu conhecido entregou o cartão cortado ao motoboy. Como o chip não foi danificado e os envolvidos tinham a senha, puderam realizar compras normalmente, deixando uma dívida pesada para essa pessoa.

Esse golpe usa a engenharia social para obter acesso ao cartão, ou seja, manipula a vítima a entregar os dados de boa vontade, sem usar violência ou de algum aparato tecnológico complicado para fazer clonagem eletrônica. Conhecendo essas táticas, por exemplo, essa pessoa poderia ter sido mais resistente às táticas e qualquer questionamento que ocorresse em qualquer uma das fases do golpe já teria dado a oportunidade de desabilitá-lo.

Então você pode me perguntar: “Ok, já sei como funciona, mas como realmente tornar a minha mente imune a isso?” E a resposta é simples, entendendo a fundo a anatomia do golpe e treinando o seu “Fator Crítico” para que este não aceite qualquer informação passada. Se em qualquer um dos passos citados anteriormente o golpista fosse questionado ou mesmo a vítima quisesse checar a informação, o golpe já era.

Pense Nisso:

Em um mundo onde a desinformação e os esquemas fraudulentos parecem correr desenfreados, torna-se crucial treinarmos a nossa mente. Embora a tecnologia tenha evoluído e se tornado mais segura, a mente humana continua a ser uma porta vulnerável à invasão por parte de manipuladores que buscam nos enganar. Mas não desanime! Com estas quatro estratégias, poderá blindar a sua mente contra a desinformação e os golpes. Espero que este artigo tenha te ajudado a compreender melhor como se defender contra golpes e fraudes. Sei que, infelizmente, os criminosos nunca descansam e estão sempre a inventar novas maneiras de enganar as pessoas, mas com as informações e dicas fornecidas aqui, poderá treinar a sua mente para ficar imune a estas armadilhas.

Lembre-se de nunca partilhar informações pessoais ou financeiras com estranhos, verifique sempre a veracidade das informações antes de tomar uma decisão. Se algo parece bom demais para ser verdade, desconfie e verifique a informação antes de tomar qualquer atitude.

Agora é hora de colocar em prática tudo o que falamos aqui. Juntos, podemos construir uma sociedade mais segura e consciente.

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