A angústia, as enxaquecas persistentes, a insônia que parece não dar trégua, a ansiedade que se manifesta constantemente, a irritabilidade que surge sem motivo aparente, o pessimismo que permeia os pensamentos e a sensação avassaladora de completa exaustão no ambiente de trabalho… se você sabe bem do que estou falando, é possível que esteja experimentando sintomas do que é conhecido como síndrome de burnout. Esse termo em inglês, que significa esgotamento, vai além de uma simples carga de trabalho intensa; está intrinsecamente ligada a um estado de estresse crônico entrelaçado com elementos depressivos.
A exaustão emocional é uma característica marcante para quem vive esse pesadelo. A sensação de estar sobrecarregado emocionalmente, incapaz de lidar com as demandas cotidianas, pode se manifestar em um desinteresse crescente pelas tarefas profissionais que antes eram estimulantes. De repente surge uma desconexão crescente em relação ao trabalho, acompanhada por uma atitude cínica em relação às responsabilidades profissionais. Outro sintoma comum é a diminuição do desempenho no trabalho. Tarefas que costumavam ser realizadas com facilidade e eficiência agora parecem exigir um esforço sobre-humano. A procrastinação pode se tornar uma constante, juntamente com uma sensação persistente de que não importa quanto esforço seja dedicado, os resultados desejados parecem inalcançáveis.
Se você se identifica com esses sintomas, é crucial reconhecer a importância de abordar o problema. O burnout não é apenas uma consequência inevitável do ambiente de trabalho contemporâneo; é uma condição séria que requer atenção e ação. Entender e reconhecer os sinais iniciais é o primeiro passo para recuperar o equilíbrio e buscar a ajuda necessária para preservar a saúde mental e emocional.
Talvez, o primeiro pensamento que venha a sua mente ao identificar esses sintomas de exaustão seja: “Preciso de um descanso!”. E sim, o descanso desempenha um papel fundamental na preservação da saúde mental e na prevenção do Burnout. Em um mundo caracterizado por ritmos acelerados e demandas constantes, reservar tempo para descanso torna-se um investimento vital na capacidade de enfrentar desafios profissionais.
Mas a relação entre o Burnout e o descanso é complexa e, muitas vezes, desafia a compreensão linear. Em teoria, o descanso é visto como o antídoto para os estragos causados pelo estresse crônico. A pausa, seja uma noite bem dormida, um fim de semana prolongado ou até mesmo períodos de férias, é considerada a oportunidade vital para restaurar as energias e revitalizar o equilíbrio emocional. No entanto, ao refletir sobre a prática do descanso, surgem questionamentos cruciais. Será que estamos, de fato, dedicando tempo suficiente ao repouso, ou estamos apenas trocando uma forma de exaustão por outra? O descanso está sendo utilizado de maneira eficaz, ou é apenas uma pausa temporária antes do retorno a um ciclo vicioso de demandas insustentáveis?
Encontrando Equilíbrio
O modo como utilizamos o tempo de descanso desempenha um papel crucial na nossa saúde física e mental. Quando questiono se estamos “verdadeiramente descansando”, me refiro a qualidade desse período de repouso. Não se trata apenas de interromper as atividades diárias, mas de dedicar um tempo para relaxar a mente e rejuvenescer o corpo. É sobre encontrar um equilíbrio que permita reduzir o estresse acumulado e recuperar as energias para enfrentar novos desafios. Ao nos questionarmos se estamos nos preparando para “enfrentar novos desafios”, reconhecemos o descanso como um investimento em nossa capacidade de lidar com situações exigentes. Um descanso eficaz não é apenas uma pausa momentânea, mas uma oportunidade de fortalecimento mental e emocional, construindo resiliência para os desafios que estão por vir.
Isso nos lembra da armadilha de cair em padrões prejudiciais, onde o descanso é insuficiente, e somos constantemente arrastados de volta a um estado de estresse devido a demandas excessivas e mal gerenciadas. Por exemplo, imagine que, apesar de estar fisicamente longe do escritório, você permaneça constantemente conectado ao e-mail corporativo, respondendo a mensagens e lidando com questões de trabalho durante todo o período de descanso. Esse padrão cria uma incapacidade real de desconectar-se e relaxar, resultando em um descanso insuficiente e na perpetuação de um ciclo estressante.
Portanto, ao refletir sobre como estamos utilizando nosso tempo de descanso, é essencial buscar um equilíbrio saudável. O descanso deve ser mais do que uma mera interrupção; deve ser um ato consciente de autocuidado, proporcionando-nos a oportunidade de verdadeiramente recarregar e nos fortalecer para enfrentar os desafios da vida de maneira mais sustentável e equilibrada.
Dormir basta para descansar?
Some a tudo isso que mencionei, o fato de que no inconsciente popular, para descansar basta dormir. Mas, na verdade, não é bem assim. Que atire a primeira pedra quem nunca acordou se sentindo cansado mesmo após uma boa noite de sono. É muito comum associarmos o descanso apenas com dormir, mas, existem outros fatores que contribuem para recarregarmos as energias do corpo e da mente. Além disso, todos nós temos reservas de energia diferentes, para coisas diferentes, assim é importante identificar onde estamos gastando mais nossa energia, ou seja, onde estamos mais cansados, para que possamos ajustar nossos hábitos de forma mais saudável, respeitando também nossos limites individuais.
A psiquiatra americana Saundra Dalton-Smith explica muito bem esse pensamento em seu TEDx Talk, de 2019, “A razão por que estamos todos cansados e o que fazer sobre isso” (em tradução livre). Segundo ela,
“muitos passam pela vida achando que descansaram porque dormiram, mas, na verdade, estamos descuidando dos outros tipos de descanso necessários”.
Saundra ainda complementa dizendo que, o resultado disso é “uma cultura de alta performance, alta produtividade, cansaço crônico e indivíduos sofrendo de burnout”.
Em seu livro Sacred Rest, Saundra aborda as descobertas de seu estudo que identificou 7 tipos distintos de cansaço. Segundo a especialista, é importante identificar qual é a origem do cansaço para aprender e praticar a melhor forma de descanso, que varia em cada situação. Ela explica que existem sete tipos diferentes de descanso que o ser humano precisa para se sentir bem e recuperar sua energia plenamente – e apenas um desses tipos está ligado ao sono. Ou seja, dormir e descansar não são necessariamente a mesma coisa.
Os sete tipos de descanso necessários para seu corpo e sua mente:
Cansaço físico
Após um período intenso de atividade física ou esforço corporal, os músculos tensionam e causam uma sensação de desgaste e fadiga. Isso implica na importância de realizar alongamentos antes e após a realização de exercícios, uma vez que, ao alongar alivia-se a tensão muscular, ajudando a prevenir lesões, e aumentando o fluxo sanguíneo entre os músculos.
É o tipo mais conhecido e o mais associado ao ato de descansar. Pode ser ativo – praticado em atividades que estimulam a circulação e a flexibilidade, como yoga, alongamento e massagem – ou passivo – dormir e tirar um cochilo
Cansaço mental
Estudar para uma prova difícil, ou a sobrecarga de informações no dia a dia, são fatores que levam ao cansaço mental, e a principal característica desse desgaste é a dificuldade de concentração e de manter pensamentos lineares. Na falta de um período de descanso adequado, o cansaço mental pode levar a perda de memória, desânimo e irritabilidade.
As opções para tratar ou prevenir este tipo de cansaço são as pausas ao longo do dia. Uma prática muito comum é tirar 5 minutos fora da tela após 1 hora de concentração, por exemplo. O tempo pode ser usado para tomar café, regar uma planta ou dar uma volta – pequenas pausas ajudam a chegar ao fim do dia com mais disposição.
Cansaço sensorial
A palavra “sensorial”, segundo o dicionário de Cambridge, refere-se aos sentidos da audição, visão, olfato, paladar e tato. O cansaço sensorial é mais comum e frequente em pessoas que vivem em grandes cidades, já que é causado pelo excesso de sons altos, luzes intensas, cheiros fortes e outras sensações. Entretanto, os aparelhos eletrônicos também são responsáveis por transmitir uma grande quantidade de estímulos sensoriais.
Evitar o excesso de estímulos sensoriais pode ser desafiador, já que eles estão presentes na maior parte da rotina. Ao fim do dia, é possível evitar o uso de smartphones e computadores, justamente para que os 5 sentidos possam descansar.
Cansaço criativo
Para trabalhar ideias, a mente necessita de liberdade e tempo de desenvolvimento. O cansaço criativo é um dos bloqueadores do pensamento inovador, influindo no andamento de projetos e na resolução de problemas.
O ócio criativo, expressão criada pelo sociólogo Domenico de Masi, é um conceito que representa a necessidade do cérebro humano de dedicar tempo não apenas ao trabalho, mas também às atividades culturais e ao lazer. Desse modo, é imprescindível dedicar algum tempo para passar em meio a natureza, visitar museus em busca de inspiração ou ler um livro de poesia.
Cansaço emocional
A exaustão emocional é decorrente da pressão psicológica ou do convívio com emoções intensas, como estresse, discussões ou trabalho sob pressão. Esses fatores acumulados desencadeiam uma sensação de impotência e falta de disposição para lidar com os problemas e desafios diários.
Em casos como esses, falar sobre as emoções ajuda a liberá-las do pensamento. Assim como os exercícios físicos podem relaxar e equilibrar a mente, o desabafo ajuda a recuperar o equilíbrio cognitivo, seja numa conversa com amigos e familiares ou com um psicólogo.
Cansaço social
Interações longas em eventos sociais também podem causar cansaço. Atualmente, também existe o agravante das videoconferências – em dias de agenda cheia, a sensação de cansaço acaba se agravando ainda mais ao fim de cada reunião.
Existem momentos em que não é possível evitar as longas interações ou reuniões, mas, no fim do expediente, encontre tempo para os hobbies e autocuidado, como a leitura de um livro favorito, ouvir música ou preparar uma refeição especial – coisas pequenas que conectam o corpo e a mente.
Cansaço espiritual
O cansaço espiritual está intimamente ligado à sensação da perda de esperança e do propósito de vida. É possível estabelecer maneiras de reconectar-se com o propósito de vida, por exemplo, ao se conectar com Deus, realizar um trabalho voluntário, manter contato com pessoas que são vistas como exemplos por conta de suas trajetórias e lutas, e considerar tudo aquilo que forma sua vocação, paixão e missão no mundo.
Equilíbrio mental antes de lutar contra o problema
O reconhecimento dos sintomas e a compreensão da complexa relação entre o descanso e o esgotamento são passos cruciais para a preservação da saúde mental e emocional. Por isso, a busca pelo “descanso” precisa ir além de interromper as atividades diárias, mas também dedicar um tempo para um descanso de qualidade, que verdadeiramente relaxe a mente e revitalize o corpo.
O descanso, quando compreendido e praticado de maneira eficaz, torna-se um investimento vital na capacidade de lidar com as pressões do ambiente de trabalho e da vida cotidiana. Mas, mais do que isso, precisamos buscar o equilíbrio mental saudável, transformando o descanso em um ato consciente de autocuidado, como um ato de prevenção ao Burnout e outras questões mentais, e não apenas como último recurso quando estamos à beira do esgotamento.
É possível alcançarmos este ideal, a resposta está em adotar práticas conscientes e equilibradas de saúde física e mental e, assim, podemos construir resiliência para enfrentar os desafios da vida de maneira mais sustentável e saudável.
Se você quiser ter acesso a mais conteúdos como esse e também práticas mentais para te ajudar a descansar a mente e a ter mais saúde mental, acesse o canal de YouTube da MIND station | Desenvolvimento Humano!
Até o próximo artigo! 🙂