Por que a busca incessante pelo sucesso está te fazendo mal E como mudar isso

Você já parou para pensar por que estamos sempre correndo atrás de alguma coisa? Da próxima promoção, de um novo fluxo de renda passiva, do próximo nível de satisfação que nunca chega. Parece que estamos sempre subindo em uma escada infinita, onde a cada degrau alcançado, o próximo parece ainda mais alto. Mas, afinal, qual é o ponto de tudo isso? Será que a felicidade está no fim dessa escalada ou estamos apenas perseguindo o vento? Vamos refletir sobre isso juntos.

Essa foi uma revelação que Arianna Huffington descobriu da pior maneira. Co-fundadora de um dos maiores portais de notícias do mundo, o The Huffington Post, ela era o símbolo de sucesso: riqueza, prestígio e poder. Mas o que ninguém via era o que se passava nos bastidores. O cansaço acumulado, as noites sem dormir, e a pressão de estar sempre buscando a próxima grande conquista a consumiam lentamente. Ela acreditava que, para manter seu sucesso, precisava estar sempre ‘correndo’.

Até que, em um dia comum, o inevitável aconteceu. Arianna desmaiou, batendo com força a cabeça na mesa de seu escritório. Acordou em uma poça de sangue, sozinha, atordoada e machucada. Mas naquele momento, entre a dor e o choque, ela teve uma revelação: por mais que estivesse no topo do mundo profissional, seu corpo e sua mente estavam no limite. Se ela não mudasse, o próximo colapso poderia ser fatal.

Esse evento foi um ponto de virada. Arianna começou a entender que o verdadeiro sucesso não está apenas em acumular conquistas externas. Ela mergulhou em estudos sobre o impacto da falta de sono e do estresse no corpo humano e percebeu que o sucesso não valia o preço. Foi essa reflexão que a levou a escrever seu livro Thrive.

E é aí que voltamos aos questionamentos que abrem esse artigo: Pense em todas as vezes que você conseguiu algo que desejava muito. Talvez um emprego novo, um aumento de salário, ou até mesmo aquela medalha de latão que ficou empoeirada na estante. Você lembra de quanto tempo durou aquela sensação de “Eu consegui”? Minutos? Horas? E logo depois, o que veio? “Tá, e agora?” Porque parece que não importa o quanto alcancemos, sempre existe um próximo “e agora” nos esperando? Será que todo esse esforço em busca do “sucesso” realmente vale a pena? Vivemos em uma sociedade que nos faz acreditar que precisamos sempre de mais: mais dinheiro, mais reconhecimento, mais conquistas. Mas será que estamos perseguindo o sucesso por escolha própria ou só estamos correndo atrás de um ideal imposto por outros e que nunca chega?

Mas, e se existisse uma maneira de ser produtivo e manter a saúde ao mesmo tempo? Arianna descobriu esse caminho após seu colapso, e o que ela aprendeu pode ser a chave para mudar a forma como você enxerga e busca o sucesso. As reflexões deste artigo podem transformar sua relação com suas conquistas e, mais importante, com você mesmo. No fim, eu vou te mostrar a chave de como aplicar essas mudanças e fazer com que você possa aproveitar seus sucessos e realizações.

A busca frenética pelo sucesso pode te levar à infelicidade

Se você ficou um pouco desconfortável com a afirmação acima, parabéns. Você está no caminho certo para entender uma das grandes ironias da vida moderna. Trabalhando com pessoas a vida toda, eu costumava ver dois grupos de pessoas: os que estavam na “esteira de sucesso” e os que estavam na “esteira do prazer”. Os primeiros estavam sempre buscando a próxima realização, o próximo desafio. Os outros eram os que só queriam se divertir, comer boa comida, viajar e ir em festas.

E aqui está o ponto curioso: ambos os grupos tinham algo em comum. Apesar de perseguirem coisas tão diferentes – sucesso ou prazer imediato – nenhum deles estava realmente satisfeito. Você consegue ver o paradoxo aqui?

Sucesso, prazer ou algo mais? Por que estamos sempre insatisfeitos?

Então, o que está acontecendo? Por que as pessoas que perseguem o sucesso não ficam felizes quando finalmente o alcançam? E por que aqueles que buscam o prazer hedonista também não encontram a felicidade? Será que o problema é o que estamos perseguindo? Ou será que a própria perseguição é o problema?

Vamos começar com uma pergunta básica: o que é sucesso? Para alguns, é uma conta bancária cheia. Para outros, é alcançar um cargo de prestígio ou ter uma vida cheia de aventuras. Mas, será que o sucesso tem um significado universal, ou estamos só seguindo uma definição que foi imposta pela sociedade?

Cientificamente, o sucesso pode ser definido como a realização de metas que trazem satisfação pessoal, mas isso é altamente subjetivo. De acordo com o psicólogo Abraham Maslow, o sucesso está relacionado à “autoatualização” — o ponto em que a pessoa atinge todo o seu potencial e encontra propósito na vida. Porém, o que muitas vezes não percebemos é que essa definição de sucesso varia de pessoa para pessoa e vai muito além de conquistas materiais.

Pense nisso: o que significa sucesso para você? É reconhecimento? Tranquilidade? Relacionamentos saudáveis? O problema talvez seja justamente esse: a gente persegue algo que nem sempre é definido por nós mesmos. E assim, ficamos presos numa busca que nunca parece realmente ter fim.

Pensando em termos de neurociência (calma, vai ser fácil de entender). Nosso cérebro não foi programado para a felicidade; mas sim para a sobrevivência. E, para sobreviver, é muito útil nunca estar completamente satisfeito. Afinal, se nossos ancestrais tivessem ficado felizes e parados depois de uma refeição abundante, talvez não tivessem sobrevivido para contar a história. E essa programação cerebral continua a nos empurrar adiante, nos dizendo que precisamos de mais, sempre mais.

Agora, imagine uma pessoa que acabou de conseguir a promoção que tanto queria. No minuto em que recebe a notícia, ela deveria estar nas nuvens, certo? Mas, o que realmente acontece é que, depois do entusiasmo inicial, sua mente começa a perguntar: “O que eu poderia ter feito melhor? E agora, qual é o próximo passo?”. Essa insatisfação é adaptativa; ela nos empurra a melhorar continuamente. Mas também nos rouba a capacidade de realmente aproveitar o momento.

Estamos presos em uma esteira sem fim?

O que acontece quando vivemos nessa “esteira de sucesso”? Estamos sempre correndo, mas nunca chegamos a lugar nenhum. Consegue ver a ironia? Corremos para ser bem-sucedidos, para acumular realizações, mas nunca paramos para realmente saborear essas conquistas. E essa falta de pausa e reflexão é o que nos mantém presos nesse ciclo sem fim.

Agora, e se existisse uma forma de sair dessa esteira? Não, não estou dizendo que você deve largar tudo e ir morar em um monastério. A solução é muito mais simples. O segredo é criar um espaço de reflexão entre alcançar algo e buscar o próximo objetivo.

Como dar essa pausa na correria?

Imagine que você acabou de concluir uma grande apresentação no trabalho. Todo mundo te aplaudiu, elogiou, disse que você foi incrível. E, logo depois, você já está pensando: “O que eu posso fazer melhor na próxima vez?” Calma! Que tal, em vez de já pular para o próximo desafio, você parar e se perguntar: “Como eu me senti antes, durante e depois dessa apresentação?”; “O que foi que eu realmente fiz bem?”; e, talvez o mais importante: “Quanto tempo durou essa sensação de contentamento?”

Parece simples, mas é mais profundo do que você imagina. Essa pausa para reflexão não apenas ajuda a absorver o que você aprendeu, mas também permite que você realmente saboreie sua conquista. Você já pensou que talvez nunca reflitamos porque estamos sempre ocupados demais correndo atrás do próximo troféu?

A tecnologia está sabotando nossa capacidade de refletir?

Não podemos deixar de lado o papel da tecnologia nesse cenário. Estamos cercados por estímulos que nos impedem de parar e refletir. Ela está sempre presente, moldando nossos comportamentos e alimentando essa sensação de que nunca estamos fazendo o suficiente. A cada notificação, post ou vídeo, você pode ser levado a acreditar que está ficando para trás, que outras pessoas estão conquistando mais, viajando mais, vivendo uma vida melhor. Mas por que isso acontece?

As redes sociais, em particular, foram projetadas para maximizar nosso tempo de engajamento. Isso significa que plataformas como Instagram, Facebook e TikTok utilizam algoritmos que mostram exatamente o tipo de conteúdo que vai prender sua atenção e mantê-lo conectado. E qual é esse conteúdo? Geralmente, são imagens e histórias que refletem o sucesso — ou a ideia de sucesso — dos outros: pessoas mostrando suas carreiras incríveis, viagens paradisíacas, corpos perfeitos e uma vida que parece inalcançável. Isso faz com que, inconscientemente, a gente compare a nossa vida real com essa versão editada e filtrada da vida dos outros.

Esse fenômeno tem até um nome: “comparação social ascendente”o ato de comparar suas vidas com as de pessoas que aparentam estar em uma posição melhor. Basicamente, é o que acontece quando comparamos nossas vidas com a de alguém que consideramos “melhor” do que nós mesmos. E qual é o resultado disso? Um aumento da insatisfação e ansiedade, porque nunca parece que estamos à altura.

Um estudo publicado pela Journal of Social and Clinical Psychology mostrou que o uso frequente das redes sociais está diretamente ligado a níveis mais altos de depressão e insatisfação com a própria vida. Conduzido pela psicóloga Melissa G. Hunt, este estudo foi um dos primeiros a estabelecer uma ligação causal entre o uso de redes sociais e o aumento dos sintomas de depressão e solidão. A pesquisa envolveu 143 estudantes da Universidade da Pensilvânia, que foram divididos em dois grupos: um grupo que manteve seu uso habitual de redes sociais e outro que limitou o tempo no Facebook, Instagram e Snapchat a apenas 30 minutos por dia, durante três semanas. E — pasmem — os resultados mostraram que o grupo que limitou o uso das redes sociais relatou uma redução enorme nos níveis de depressão e solidão em comparação ao grupo de controle. Basicamente, ao reduzir o tempo gasto nessas plataformas, os participantes tiveram menos oportunidade de se envolver em “comparação social ascendente”.

Some a isso o fato de que a tecnologia cria um ambiente onde não existe espaço para pausas. A função de “auto-play” em vídeos, por exemplo, não te dá nem tempo para refletir sobre o que acabou de ver. O próximo vídeo já está passando antes que você tenha a chance de processar. Isso também vale para as notificações de apps e redes sociais: antes que você termine uma tarefa, outra coisa já está exigindo sua atenção. Com tanta distração, perdemos a capacidade de refletir sobre nossas próprias conquistas e, consequentemente, apreciar o que já alcançamos.

E, se não refletimos, como esperamos aprender ou sentir verdadeira satisfação?

O Segredo que ninguém te contou (até hoje). Será que podemos perseguir objetivos sem nos perdermos neles?

E se, ao invés de desistir dos seus desejos (porque sejamos honestos, a maioria de nós realmente não quer fazer isso), simplesmente você aumentasse a janela de reflexão entre um objetivo e o próximo? Ao fazer isso,você treina o seu cérebro para saborear suas conquistas, entender seus fracassos e, paradoxalmente, se tornar ainda mais eficiente na busca dos seus objetivos futuros.

Isso não é apenas um conselho abstrato — há uma base científica por trás. Estudos mostram que a prática da metacognição, ou seja, a capacidade de refletir sobre os próprios pensamentos e experiências, pode melhorar nossa capacidade de aprender e tomar decisões melhores.

Mas como exatamente isso funciona?

Quando você alcança uma meta ou completa uma tarefa, seu cérebro ativa o sistema de recompensa, liberando dopamina, o neurotransmissor responsável pela motivação e antecipação da recompensa. No entanto, ao contrário da ideia de gerar imediatamente prazer, a dopamina está mais ligada à sensação de “busca” e à expectativa de recompensa do que à própria satisfação. O verdadeiro prazer e sensação de realização vêm após a conquista, quando outras substâncias químicas, como endorfinas e serotonina, são liberadas. Porém, essa sensação tende a ser breve. Se você imediatamente passa para o próximo desafio, o cérebro não tem tempo de consolidar essa experiência positivamente, mantendo-se apenas no ciclo da dopamina, sempre em busca de mais.

Veja este vídeo se quiser saber um pouco mais sobre a DOPAMINA

É aqui que entra a importância da pausa. Refletir sobre o que você conquistou permite que essa sensação seja prolongada e consolidada na memória de longo prazo, criando um ciclo de feedback positivo que aumenta a satisfação a longo prazo.

Mais do que isso, a pausa também ativa o default mode network (DMN), uma rede cerebral que é responsável por nossa auto-reflexão, planejamento e criatividade. Quando estamos em constante movimento, saltando de uma tarefa para outra, o DMN não tem a oportunidade de operar de forma eficaz, prejudicando nossa capacidade de inovar e encontrar soluções criativas para os problemas. Por isso, ao criar um espaço de pausa e reflexão entre os objetivos, você não só prolonga a sensação de satisfação, mas também aprimora sua capacidade de lidar com novos desafios.

A pergunta aqui é: como aplicar isso no dia a dia? Uma estratégia prática é simples: após concluir uma tarefa ou alcançar um objetivo, em vez de passar imediatamente para o próximo item da lista, tire alguns minutos para refletir. Pergunte a si mesmo: “Como eu me senti ao fazer isso?”, “O que eu fiz bem?”, “O que poderia melhorar?”, “O que eu aprendi com isso?”. Essas perguntas ativam o processo de reflexão e criam um espaço para experimentar o que foi alcançado.

Portanto, a chave não é parar de correr atrás dos objetivos, mas sim encontrar o equilíbrio entre perseguir metas e tirar um tempo para refletir e valorizar o caminho percorrido.

O segredo da felicidade está nas PAUSAS

Então, da próxima vez que você alcançar algo grande (ou pequeno), tente não cair na tentação de imediatamente correr atrás do próximo objetivo. Dê a si mesmo o presente da pausa e da reflexão. Descubra o que você realmente sente sobre sua conquista. Experimente-a e viva o momento mais intensamente. Porque, no fim das contas, talvez o segredo da felicidade não seja desistir de nossos desejos, mas aprender a apreciá-los plenamente quando os realizamos.

E aí, pronto para pausar e refletir? O que você tem a perder? Talvez apenas aquela sensação interminável de estar sempre atrás de algo que nunca chega.

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