Search
Close this search box.

EN

A Revolução da Desconexão: Como usar melhor o celular pode transformar sua mente e corpo

A era digital trouxe consigo uma enorme transformação no comportamento humano, especialmente no que diz respeito ao uso do celular. Estima-se que o americano médio toca seu celular cerca de 2600 vezes por dia, e essa interação constante tem alterado a neurologia do nosso cérebro. Mas o que aconteceria com nosso cérebro e corpo se tentássemos parar de usar o celular? Este artigo explora essa questão, utilizando descobertas científicas e estudos recentes para entender os efeitos da abstenção do uso do celular em nossa saúde mental e física. Vamos analisar as mudanças que ocorrem desde a primeira hora até duas semanas sem o celular, trazendo nomes de pesquisadores e dados importantes de estudos relevantes.

O que me levou a pensar nesse artigo foi algo que presenciei há dois anos, durante umas rápidas férias em que visitei o coração do Brasil e fui parar no Parque do Jalapão, um lugar incrível que recomendo a todos que ainda não conhecem.

Parque nacional do Jalapão

Em locais mais distantes da civilização, o celular praticamente não funciona, o que foi excelente. No entanto, muitas pessoas ainda têm dificuldade em se desligar de seus telefones. Um evento específico fez com que eu percebesse ainda mais como estamos ficando dependentes desse aparelho. Em um dia, o grupo em que eu estava acordou às três da manhã para escalar uma montanha e ver o nascer do sol, que ocorria por volta das cinco e meia. Após um trajeto de carro, caminhada e subida, estávamos todos lá, esperando pelo espetáculo.

Foi quando olhei para o lado e vi uma das pessoas do grupo olhando o nascer do sol pelo celular e filmando a cena. Em qualquer outra situação, provavelmente não diria nada, mas naquele dia virei e disse: “Você está perdendo o nascer do sol, por que não larga o celular por um minuto?” A pessoa logo me respondeu: “Eu não estou perdendo, estou gravando para poder ver isso quando eu quiser.” Naquele momento, pensei: “Mas como a imagem do celular pode ser igual à experiência de estar aqui de fato?” Obviamente, deixei isso de lado e voltei a apreciar a cena, mas essa reflexão ficou gravada na minha mente e até hoje me faz questionar como estamos nos afastando das experiências reais em troca de uma tela.

Nascer do Sol no Parque Nacional do Jalapão

Essa experiência pessoal ilustra bem a crescente dependência que temos dos nossos dispositivos móveis. Este artigo irá mergulhar nas implicações dessa dependência e investigar como a abstenção do uso do celular pode impactar nossa saúde mental e física. Vamos explorar as transformações que ocorrem em nosso cérebro e corpo quando nos desconectamos do mundo digital e nos reconectamos com o mundo real.

A Primeira Hora: O Desafio Inicial

Quando alguém decide parar de usar o celular, a primeira hora é marcada por um desafio de resistência. Segundo um estudo da Dscout, a pessoa média pega o celular 52 vezes por dia. Portanto, mesmo em uma hora, é provável que a pessoa sinta a necessidade de verificar o celular três a quatro vezes. Esta necessidade constante de checar o dispositivo está enraizada em mudanças neurológicas causadas pelo uso frequente de smartphones.

12h Sem Celular: Ansiedade e Estresse

Após doze horas sem o celular, muitos indivíduos começam a sentir ansiedade. A falta de verificação do celular libera cortisol, o hormônio do estresse. Isso ocorre porque as interações sociais positivas nas redes sociais, como curtidas e mensagens, ativam vias neurais associadas à recompensa, liberando dopamina. O Dr. Larry Rosen, psicólogo especializado em psicologia da tecnologia, explica que sem essas pequenas recompensas constantes, o cérebro entra em um estado de estresse, aumentando a ansiedade.

24h: Medo de Perder Algo (FOMO)

Um dia sem celular pode levar ao fenômeno conhecido como FOMO (Fear Of Missing Out, ou Medo de Perder Algo). Este sentimento é acompanhado por aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e níveis de ansiedade. De acordo com uma pesquisa realizada pela American Psychological Association, o medo de não estar atualizado com as últimas novidades ou de perder interações sociais importantes pode ser enorme, exacerbado pelo design intencional das tecnologias móveis para manter os usuários “presos” ali.

3 Dias: Sentindo a Presença Fantasma do Celular

Após três dias, muitos indivíduos relatam sentir vibrações fantasmas ou toques inexistentes. Este fenômeno, conhecido como “síndrome do toque fantasma”, foi estudado pela Dra. Michelle Drouin, psicóloga da Purdue University Fort Wayne, que descobriu que 89% dos estudantes universitários relataram sentir vibrações fantasmas. No entanto, é nesse ponto que os benefícios começam a surgir. Estudos mostram que, sem o celular, as pessoas começam a ter interações sociais melhores e mais profundas. Um estudo realizado pela Universidade de Essex mostrou que a ausência de “fubbing” (ignorar as pessoas à volta para ficar no telefone) melhora a qualidade das comunicações e dos relacionamentos.

5 Dias: Melhoria na Atenção e Desempenho Acadêmico

Estudos com estudantes universitários e profissionais que trabalham em escritório mostram que o uso frequente do celular reduz drasticamente a capacidade de atenção. Pesquisadores da Carnegie Mellon University’s Human-Computer Interaction Lab, liderados pelo Dr. Eyal Ophir, descobriram que estudantes que recebiam mensagens de texto durante os testes tiveram um desempenho 20% pior do que aqueles com celulares desligados. A abstenção do celular permite que o cérebro se concentre em tarefas por mais tempo, melhorando o desempenho acadêmico e profissional.

1 Semana: Melhora na Cognição e no Sono

Pesquisas indicam que o uso pesado de smartphones pode estar ligado a habilidades cognitivas reduzidas. Um estudo com 660 participantes realizado pela Dra. Stephanie Madore, da McGill University, descobriu que aqueles com habilidades cognitivas mais fortes usavam menos seus celulares. Além disso, reduzir o uso do celular melhora a qualidade do sono. O Dr. Charles Czeisler, especialista em sono da Harvard Medical School, argumenta que a diminuição da estimulação psicológica e a redução da exposição à luz azul dos celulares são fatores importantes.

2 Semanas: Redução da Ansiedade e Dor Física

Após duas semanas, os níveis de ansiedade tendem a diminuir drasticamente. Alguns estudos até sugerem uma possível redução na depressão. Pesquisadores da Universidade de San Diego, liderados pela Dra. Jean Twenge, encontraram uma correlação entre o tempo de uso de dispositivos móveis e o aumento dos sintomas de depressão em adolescentes. Além dos benefícios mentais, a redução no uso do celular pode aliviar dores físicas, como dores no pescoço e punhos, frequentemente causadas pela postura incorreta e uso prolongado.

O Papel das Empresas de Tecnologia

Empresas de tecnologia, cientes do impacto neurológico de suas criações, projetam produtos para maximizar o engajamento. Elas utilizam conceitos de erro de previsão de recompensa, como explicado pelo Dr. B.J. Fogg da Stanford University, para manter os usuários constantemente verificando seus dispositivos, incentivando um ciclo de uso contínuo. Entender essa manipulação pode ser o primeiro passo para libertar-se da dependência tecnológica.

Práticas para Reduzir o Uso do Celular

Reduzir o uso do celular pode parecer uma tarefa difícil, mas existem estratégias práticas que podem ajudar. Aqui estão algumas sugestões:

1. Estabeleça Limites de Tempo: Use aplicativos que existem em todas as plataformas para monitorar o tempo de uso de aplicativos específicos e receber relatórios detalhados. Alguns deles ainda permitem definir limites de uso para aplicativos individuais e fornecem alertas e notificações quando você está perto de exceder esses limites.

2. Desative Notificações Desnecessárias: Reduza a tentação de verificar o celular desativando notificações de aplicativos não essenciais. Isso se torna ainda mais vital se você recebe notificações também no seu relógio.

3. Crie Zonas Sem Celular: Estabeleça áreas na sua casa onde o uso do celular é proibido, como o quarto ou a sala de jantar.

4. Adote Novos Hobbies: Encontre atividades que possam substituir o tempo gasto no celular, como leitura, exercícios ou hobbies criativos.

5. Retire o celular do seu campo de visão: Este simples ato é extremamente importante se você realmente deseja focar em algo. Aliás, sempre peço isso quando estou em sala de aula. O fato de o celular não estar perto ou visível libera boa parte da sua atenção que, de outra forma, estaria inconscientemente verificando o aparelho para ver se chegou alguma mensagem ou trazendo aqueles pensamentos que te levam a olhar para o celular, pensando que “alguém pode ter curtido sua foto no Instagram”.

6. Pratique Mindfulness: As técnicas de mindfulness e meditação podem reduzir a ansiedade relacionada ao uso do celular. Além disso, essas práticas ajudam a perceber e abandonar facilmente os pensamentos que levam ao comportamento de verificar o celular constantemente, mesmo quando não há necessidade.

Uma Nova Perspectiva Sobre o Uso do Celular

A decisão de parar de usar o celular por um tempo pode parecer assustadora, especialmente nos primeiros dias marcados por ansiedade e desconforto. No entanto, os benefícios a longo prazo são inegáveis. Desde a melhoria na atenção e no sono até a redução da ansiedade e dores físicas, desconectar-se do celular pode levar a uma vida mais saudável e equilibrada. Em um mundo cada vez mais conectado, a verdadeira revolução pode estar em desconectar-se e redescobrir uma vida menos dependente da tecnologia. Que este artigo inspire você a tomar medidas práticas para reduzir o uso do celular, criar formas de usá-lo com mais consciência e experimentar os benefícios de uma mente e corpo livres da dependência digital.

Vamos juntos criar um mundo onde a Saúde Mental é a pedra fundamental e que consigamos usar a tecnologia a nosso favor. 

Mais artigos

plugins premium WordPress