Dia Internacional da Mulher: o que realmente pode nos levar para um futuro verdadeiramente igualitário?

“Eu tenho um sonho”. Você provavelmente sabe de quem eu estou falando e a o que estou me referindo pela pequena frase que inicia este artigo. Em 28 de agosto de 1963, o pastor e líder do movimento contra a segregação racial nos Estados Unidos Martin Luther King discursou sobre seu sonho de uma América (e um mundo) com igualdade entre negros e brancos. Suas palavras ecoaram em um contexto de divisão e segregação racial no país que se colocava como moderno e como liderança mundial. Enquanto os norte-americanos possuíam as mais avançadas tecnologias e armas, negros eram impedidos de dividir espaços com brancos, o casamento entre negros e brancos era proibido e jovens afrodescendentes tinham acesso limitado à educação.

“A nova e maravilhosa militância que tomou conta da comunidade negra não deve nos levar a suspeitar de todas as pessoas brancas, pois muitos de nossos irmãos, conforme evidenciado por sua presença aqui hoje, acabaram por entender que seu destino está vinculado ao nosso destino e que a liberdade deles está vinculada indissociavelmente à nossa liberdade. Não podemos caminhar sozinhos. E, enquanto caminhamos, precisamos fazer a promessa de que caminharemos para frente. Não podemos retroceder”,

Parte do discurso, durante uma marcha que reuniu cerca de 250 mil pessoas, negros e brancos em busca de igualdade.

Nesse momento uma única pergunta deve estar percorrendo sua mente: mas qual é a ligação desse discurso com o Dia internacional da Mulher, afinal, este é o título do artigo, não é? As reflexões de Martin Luther King Jr. sobre igualdade continuam relevantes ainda nos dias de hoje, e nos lembram que a luta pela igualdade social é uma luta contínua que exige nossa atenção e engajamento. Precisamos nos unir para lutar contra a discriminação e a injustiça, e trabalhar juntos para construir um mundo mais justo e igualitário para todos. E, trazendo o discurso para nossos dias atuais, para mim, ele é o exemplo perfeito e muito poderoso da importância da igualdade e da integração das pessoas para a construção de um mundo melhor. Da mesma forma, a ideia de igualdade entre homens e mulheres é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa para todos.

O caminho para a igualdade

Já é consenso que locais de trabalho diversificados são benéficos e essenciais, tanto para as pessoas como para os negócios. Não por acaso, a questão da inclusão nas empresas ganhou atenção especial nos últimos tempos. O relatório Diversity Wins da McKinsey & Co., publicado em maio de 2020, reforça que esse processo vem se fortalecendo. O levantamento, que existe desde 2014, traz dados atuais referentes a mais de mil grandes empresas de 15 países e aponta que, mesmo nas relativamente diversas, é necessário atentar-se à inclusão.

E, embora tenham sido feitos alguns progressos, ainda há muito trabalho a ser feito para garantir que homens e mulheres sejam tratados da mesma forma no ambiente de trabalho. A principal solução para essa questão, a meu ver, é a integração de pessoas.

A integração de pessoas é uma abordagem que visa promover a inclusão de indivíduos de diferentes origens, experiências e perspectivas. Ela pode ser aplicada a vários aspectos da vida, incluindo o ambiente de trabalho. Na prática, isso significa que as empresas devem se esforçar para atrair e reter funcionários de diferentes gêneros, raças, religiões, orientações sexuais e origens culturais. Isso não só ajuda a promover a igualdade de gênero, mas também pode trazer benefícios significativos para a organização como um todo.

Para isso, é necessário adotar medidas como implementação de políticas de diversidade e inclusão, que devem ser parte integrante da cultura da empresa. Isso significa adotar medidas concretas para atrair e reter funcionários de diferentes gêneros e garantir que eles tenham as mesmas oportunidades e benefícios.

Praticar esta diversidade e inclusão ainda fortalece valores e traz benefícios significativos para a inovação, uma vez que permite a conexão e a integração de pessoas com diversas experiências, temperamentos, estilos e visões diferentes, formando equipes mais robustas com sua heterogeneidade cultural, racial e de gênero. Esta diversidade de características humanas, em ambientes que fomentam a liberdade de expressão e dão espaços para a autenticidade, agrega, complementa e fortalece diferentes formas de pensar, impulsionando a criatividade e trazendo novos pontos de vistas que ajudam as organizações a evoluir como um todo, principalmente em sua forma de pensar e agir.

E como cita Luther King em seu discurso, não podemos caminhar sozinhos: para alcançar este objetivo precisamos integrar todas as pessoas em nossas lutas. Homens e mulheres devem trabalhar juntos para promover a igualdade de gênero e criar um um futuro de possibilidades iguais e justas para todos. Devemos nos unir para enfrentar as desigualdades que ainda existem e trabalhar para erradicá-las.

Os vieses inconscientes no caminho

Nessa busca pela igualdade, não são poucos os obstáculos. Sabemos, por exemplo, que julgamentos e generalizações impactam as relações, inclusive as profissionais, nas quais os efeitos são bastante negativos. Nesse sentido, a abertura das empresas para a diversidade faz com que comportamentos discriminatórios se manifestem com mais intensidade.

Os vieses inconscientes podem ser um grande obstáculo para a igualdade de gênero. Eles podem levar a uma subestimação das habilidades e conquistas das mulheres, a uma preferência por homens em posições de liderança e a uma falta de representatividade feminina em determinados cargos. Para promover a sonhada igualdade, é necessário tomar medidas concretas para combater esses vieses e promover a conscientização e o treinamento sobre questões de gênero e diversidade.

A Neurociência explica os vieses inconscientes como mecanismos do cérebro resultantes da organização da própria mente. Essa ordenação ocorre devido às experiências vividas, educação escolar, exposição a determinada cultura do país onde vivemos, interações familiares e ambientes frequentados ou em consequência de nossas heranças ancestrais e/ou primitivas.

Esses fatores desencadeiam juízos antecipados, discriminações, estereótipos, generalizações, julgamentos sem conhecimento e exclusões sem justificativa. Apesar de não ser uma regra, na maioria das vezes, essas crenças ocorrem involuntariamente. Aliás, muitas delas não têm relação com o caráter do indivíduo e poderiam até ser evitadas.

Um exemplo de viés inconsciente é o viés de confirmação. Esse viés nos leva a dar mais atenção a informações que confirmam nossas crenças e a ignorar informações que as contradizem. Quando se trata de igualdade de gênero, isso pode levar a uma falta de reconhecimento das habilidades e conquistas de mulheres em posições de liderança e um subestimando de suas habilidades.

Outro viés inconsciente que pode prejudicar é o viés de afinidade. Esse viés nos leva a favorecer pessoas que são semelhantes a nós em termos de gênero, raça, classe social, entre outros aspectos. Isso pode levar a uma preferência por homens em posições de liderança e a uma falta de representatividade feminina em determinados cargos.

Há ainda o viés de estereótipos de gênero, que nos leva a fazer suposições com base em estereótipos de gênero, como a ideia de que homens são mais agressivos e competentes e as mulheres são mais emocionais e dóceis. Isso pode levar a uma falta de reconhecimento das habilidades e conquistas das mulheres e a uma tendência a atribuir essas conquistas a outras pessoas ou fatores.

Para combater esses vieses inconscientes é necessário tomar medidas concretas. Mais uma vez cito a implementação de políticas de diversidade e inclusão como parte da solução, visando a contratação e promoção equitativa de funcionários de diferentes gêneros. Além disso, é importante promover a conscientização sobre a existência desses vieses e oferecer treinamentos para ajudar os colaboradores a identificá-los e evitá-los.

Nesse sentido, é preciso trabalhar também o autoconhecimento. Ao admitirmos que estamos sujeitos a erros, pré-julgamentos, atitudes egoístas e depreciativas, nos tornamos mais atentos às nossas ações e ao impacto delas na vida das outras pessoas. Lembrando que promover o autoconhecimento também é exercitar a empatia, pois só assim conseguimos nos colocar no lugar do outro.

De outra forma, as empresas que não abraçarem a inclusão e a diversidade continuarão fazendo o que sempre fizeram, da mesma maneira, e obtendo resultados não tão satisfatórios, porque terão dificuldades de acompanhar as mudanças que seus colaboradores e o mercado exigem. Afinal de contas, inclusão e diversidade não fomentam somente a inovação, mas também a evolução dos negócios e das pessoas que o integram.

De olho no futuro

E você, líder, precisa se integrar aos movimentos da sociedade e estar atento ao tema da diversidade em todos os seus aspectos. Em relação às gerações, raças, opção sexual, gênero, deficiências físicas, enfim, qualquer espécie de diversidade. É importante para as lideranças, pois estamos vivendo em um momento significativo nesse sentido, e noto uma evolução gigantesca nos últimos anos. Trata-se de uma forma mais humana de liderar. As lideranças devem se posicionar para aceitar o próximo como um ser humano passível de ter as suas fraquezas, forças e vulnerabilidades.

Ainda há muito a ser feito para alcançar um nível onde todos tenham as mesmas chances para seguir o que desejarem. As organizações devem tomar medidas para superar o viés de gênero, garantir igualdade salarial e criar um ambiente inclusivo para todos os funcionários. Nós, homens, também devemos desempenhar um papel ativo na promoção dessa diversidade: ao trabalharmos juntos, podemos alcançar a paridade nas lideranças e colher os benefícios dessa diversidade em um futuro mais igualitário e melhor para todos.

Por fim, devemos lembrar que a integração das pessoas é fundamental para alcançar qualquer sentido de igualdade. Vamos nos inspirar nas palavras de Martin Luther King Jr. e trabalhar juntos para realizar o sonho de um mundo verdadeiramente igualitário.

Vamos começar agora e falar mais sobre isso?

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