Alguns anos atrás, quando esse papo sobre meditar começou a rodar de maneira mais aberta, me lembro de pesquisar sobre o assunto. Então, conversei com amigos, iniciei a experimentação e, obviamente, tive alguns enganos sobre a meditação.
Início no aprendizado sobre meditação
Todo mundo que se inicia no tema experimenta aquela empolgação e quer infligir a meditação nos outros.
Me lembro de reunir minha equipe numa sala de reunião fechada e de ensinar rapidamente postura, respiração e “para onde olhar”.
Com isso, a minha expectativa era a de que com duas ou três sessões, todos estivéssemos meditando regularmente. Consequentemente, acreditava que isso traria calma, tranquilidade, foco e uma atmosfera moderninha no escritório quadradão. E claro, falhei miseravelmente.
O que eu, à época, acreditava, era que com algumas sessões de prática, problemas fossem diminuir de tamanho. Assim sendo, pensei que as pessoas fossem ficar mais calmas e focadas. E também acreditei que a produtividade fosse disparar. Como o título do filme do Tom Hanks, eu estava “à espera de um milagre”.
Hoje, anos depois e incontáveis horas, dias, meses meditando, utilizo esse exemplo para explicar alguns enganos básicos, mas bastante comuns, sobre a prática da meditação.
Descubra alguns enganos sobre a meditação
Engano 1
Para meditar, você deve parar de pensar. E como diria o Charles Betito Filho, fundador da Mind Station e um dos instrutores mais habilidosos de meditação que eu conheço, “sua mente só para de pensar quando você morrer”. E isso é simples.
Meditar não é o exercício de “parar de pensar”, porque é impossível. Decerto, ela está mais relacionada a manter seu foco onde você racionalmente o deseja.
Se você nunca meditou, tente colocar a atenção na sua respiração, exclusivamente, por 5 minutos e você entenderá o quão difícil isso é e porque precisamos tanto praticar. Assim, chegamos ao “Engano 2”.
Engano 2
A meditação te deixa tranquilo. Portanto, é um efeito colateral (talvez positivo), mas o exercício não tem este objetivo, definitivamente.
Meditar é exercitar a presença, e não é respirar no saquinho para diminuir a ansiedade. Por meio da prática, nós separamos os pensamentos dos sentimentos e olhamos para os dois de maneira simples.
Olhamos para a essência do que nos faz humanos e treinamos não criar narrativas que transformem sentimentos em pensamentos, nem que deixem pensamentos maiores do que são.
Engano 3
Meditação te desconecta do caos. Portanto, se para meditar você procura um lugar totalmente silencioso, calmo e isolado, você está tentando resolver algum tipo de problema.
Ao meditar você exercita a conexão, portanto não importa o lugar, nem o quão caótico ele seja. Se ele te permite ficar sentado e respirar, é perfeito para a meditação.
Engano 4
Ter objetivos com a prática é um dos enganos sobre a meditação. Vou meditar porque quero aprender a me acalmar… Ou vou meditar porque quero ignorar um determinado tipo de problema… Ou ainda vou meditar para me preparar para uma reunião.
O que pode ser considerado mais próximo de um objetivo na prática, é treinar o nosso estado de presença. Se estar conectado com o momento presente puder ser considerado um objetivo, então este é o objetivo da prática da meditação.
Normalmente não consideramos este um objetivo porque este deveria ser o nosso estado natural: presentes no momento.
Como não cair nos enganos da meditação
Sabemos o quanto o estado de presença é importante no dia a dia profissional. Contribuições de qualidade numa reunião, por exemplo, acontecem com mais frequência se estivermos 100% presentes na discussão.
Pois é, se a cabeça não está presente, diversos estragos acontecem. A solução, entretanto, não está em parar tudo, no horário de trabalho, para meditar.
A meditação é como ir à academia. Você precisa carregar algo pesado do carro para dentro de casa. Para isso você precisa de força nos braços. Se você nunca treinou a força dos braços com pesos, por exemplo, o limite de peso que você aguenta é um.
Se você vai para a academia e treina todos os dias com pesos, o limite de peso que você aguenta é, provavelmente, maior. Com a meditação, a lógica é a mesma. Se você pratica, sua capacidade de se manter presente e conectado é provavelmente maior do que se não pratica.
Utilizando outro exemplo maravilhoso do Charles Betito Filho… Uma vez ouvi perguntarem a ele: “então quer dizer que se você bater o carro, você ficará super calmo?” Ele respondeu: “não.” “Eu provavelmente ficarei nervoso, mas eu estarei 100% presente no ocorrido, na discussão e na solução.”
Não meditamos esperando um tipo de situação. Meditamos para praticar a presença. A presença, via de regra, traz benefícios – soluções menos dramáticas para os problemas, maior objetividade, menor interferência de sentimentos, melhor cognição.
Incorporar a prática sem cair nos enganos da meditação
Tudo isso é muito útil no dia a dia profissional. Não é garantido… Mas quem já experimentou um pouco de prática regular, sabe do que eu estou falando.
Meditar no escritório, durante o horário de trabalho, fica parecendo mais uma tarefa, dentre tantas outras que temos todos os dias. Mais um “check” na lista de “to dos”. Um exercício objetivo como diversos outros que fazemos durante nossa rotina profissional diária.
Minha sugestão, portanto, é de incorporar a prática diária, como a prática de tomar banho, ou de tomar café da manhã com a família. Porque ela é muito mais ampla e menos objetiva do que o trabalho.
Praticar presença vai te fazer perceber as coisas, acontecimentos e detalhes não só no ambiente profissional. A percepção antes do julgamento é uma revelação nesta vida moderna.
Um pouco sobre mim…
Me chamo João de Lorenzo, trabalho com planejamento estratégico, concepção e implementação de projetos e com (quase) tudo relacionado a vendas e gestão de força de vendas.
Estudo (e pratico) meditação há 10 anos e, cansado de ver tantos equívocos que se cometem sobre o tema, resolvi escrever pra ajudar no correto entendimento da prática.
Caso você tenha experiências interessantes sobre meditação, escreva para a Mind Station.